24 de março de 2006

"Bolonha"

Bolonha está aí à porta, a Europa do conhecimento está a chegar a Portugal, mas está difícil de chegar aqui ao “jardim à beira mar plantado”.
Os princípios fundamentais foram lançados no documento Magna Charta Universitatum de Bolonha em 1988, há 18 anos (tinha eu dois), vários países assinaram a declaração comprometendo-se a coordenar as suas políticas de modo a conseguir os objectivos pressupostos no documento, abaixo transcritos.

• Adopção de um sistema de graus de acessível leitura e comparação,
também pela implementação do Suplemento ao Diploma, para promover
entre os cidadãos europeus a empregabilidade e a competitividade
internacional do sistema europeu do Ensino Superior;

Adopção de um sistema essencialmente baseado em dois ciclos
principais, o graduado e o pós-graduado. O acesso ao segundo ciclo vai
requerer o termo com êxito dos estudos do primeiro ciclo, com a duração
mínima de três anos. O grau conferido, após o primeiro ciclo, será
também relevante para o mercado europeu do trabalho como nível
apropriado de qualificação O segundo ciclo deverá conduzir aos graus
de mestre e/ou doutor como acontece em muitos países europeus;

• Estabelecimento de um sistema de créditos - como, por exemplo, no
sistema ECTS - como um correcto meio para promover a mobilidade
mais alargada dos estudantes. Os créditos podem também ser
adquiridos em contextos de ensino não superior, incluindo a
aprendizagem ao longo da vida, desde que sejam reconhecidos pelas
respectivas Universidades de acolhimento;

• Promoção da mobilidade, ultrapassando obstáculos ao efectivo exercício da livre mobilidade, com particular atenção:
o aos estudantes, no acesso às oportunidades de estudo e
formação, bem como a serviços correlativos;
o aos professores, investigadores e pessoal administrativo, no
reconhecimento e na valorização dos períodos passados num
contexto europeu de investigação, de ensino e de formação, sem
prejuízo dos seus direitos estatutários;

• Promoção da cooperação europeia na avaliação da qualidade, com vista
a desenvolver critérios e metodologias comparáveis;

• Promoção das necessárias dimensões europeias do Ensino Superior,
especialmente no que respeita ao desenvolvimento curricular, à
cooperação interinstitucional, aos esquemas da mobilidade e aos
programas integrados de estudo, de formação e de investigação.

Comprometeram-se também a conseguir os objectivos antes do final da primeira década do terceiro milénio.
Apesar de tudo estamos em Portugal, ainda não temos tgvs e a nossa ligação com a Europa continuará sempre interrompida pelos Pirinéus, apesar de cada vez mais portugueses terem acesso à Internet, mas este facto parece continuar a ser insuficiente para reduzir a nossa condição de periféricos.
Com isto quero dizer que Portugal continua a ser o “recto” da Europa, as decisões são tomadas lá na Europa, os nossos dirigentes assinam e depois dizem-nos a nós que tal medida é boa e vai ser implementada, ponto.
O Zé-povinho não sabe, e muitas vezes é certo não mostra grande interesse em saber, mas aceita porque alguém que manda diz que é bom.
A título de exemplo faço referência a uma situação vivida pela minha pessoa há poucos meses. Durante as eleições à AAUTAD (Associação académica de Vila Real) a lista da qual eu fazia parte tinha como um dos objectivos promover o debate sobre o processo de Bolonha, e realmente tentamos cumprir o nosso objectivo num debate realizado também para esse efeito. Mas logo à partida vimos que seria uma tarefa difícil, senão impossível dado que os representantes das outras listas faziam questão de discutir os seus problemas pessoais, e quando a questão de “Bolonha” foi posta ao candidato a Presidente por uma das listas (depois vencedora), a resposta foi curta: “Não sei, mas se houver alguém na sala que saiba…” a jornalista afirmou possuir conhecimentos na matéria mas a ela não lhe cabia na ocasião dar esclarecimentos, eu modestamente possuía alguns conhecimentos, mas não me foi permitido falar dado que o debate estava apenas destinado aos cabeças de lista. E foi esta a discussão que foi permitida aos alunos da UTAD, diga-se também que estes demonstraram mais interesse pelos aspectos pessoais das listas envolvidas do que por essa treta de Bolonha.
Agora o tempo mostra-se pouco e assiste-se a uma correria de professores, ministros, e políticos, para tomar as medidas, assinar documentos e dar curtos esclarecimentos aos interessados, os estudantes também parecem ter acordado em cima da hora e também nós estamos agora preocupados em saber o que é essa coisa.
Novos cursos abriram no ano passado, este ano…. para que no próximo ano sejam remodelados. Sempre a pensar no futuro!!!!
Discussão para quê!?

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