18 de janeiro de 2008

«À espera dos bárbaros»

"Desde ontem sinto-me mais seguro e confiante no Mundo e nos outros. A Ribeira, sempre na vanguarda da segurança, vai ter 13 câmaras de vigilância (até agora só havia uma no Porto, instalada pela Câmara na Praça D. João I, para legar à posteridade a identidade de quem se manifesta contra Rui Rio). E fico particularmente tranquilo por a minha privacidade (o que quer que isso seja) ficar devidamente protegida e as minhas imagens, se calhar acender um cigarro num local indevido ou me coçar inadvertidamente, ficarem à conspícua guarda do comandante da Polícia. O meu problema, agora, ao sair de casa, é o que devo vestir, verificar se tenho a barba feita, os sapatos engraxados, se não bocejo sem pôr a mão à frente da boca, se não atiro papéis para o chão, se não deito olhares inconvenientes em volta, e se sorrio sempre "com muitos e lavados dentes brancos à mostra" na rua, nos supermercados, nas lojas, nos parques de estacionamento, no Metro, nas auto-estradas, nos hospitais, nos estádios, nas caixas multibanco (ainda outro dia fui apanhado numa a fazer um trejeito de desolação ao consultar o saldo, desculpa lá, ó Grande Irmão). E, claro, se não me esqueço de pôr o capuz quando, numa livraria, compro um livro de Jean Genet ou de Margarida Rebelo Pinto."

in última jn 17-01-2006

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