24 de janeiro de 2010

O Novo do Restelo

"Enfim! Isso... É preciso algum folclore nesta merda!"

Sinto-me cada vez mais um Velho do Restelo, sempre a bater na mesma tecla, cada vez mais pessimista e obscuro. Estar a dizer "Velho" talvez seja falta de humildade da minha parte, uma vez que ainda não possuo o espírito crítico de um português de 80 anos, e o seu respectivo escárnio e mal dizer. "Novo do Restelo", vá lá. Ainda assim reparo em mim, com o passar dos anos, a bater, ou clicar que é mais moderno, nas mesmas teclas sujas q.b. deste país. E são tantas as teclas que limito-me a carregar nas mais sujas e no botão "power" que carrega todo este folclore, ou seja o nosso estado democrático. Infelizmente este país não vai para a frente porque não temos à nossa disposição um ESC ou um RESET. Mas esta minha visão talvez seja cada vez mais utópica, sinto-me um português utópico. No fundo ainda gosto de pedir favores, com o intuito de controlar o futuro, o meu e o dos outros. E esses favores estão enraizados no meu ser desde o meu baptismo, onde me é dada a bênção, bênção essa que posso passar a utilizar para meu proveito. Quem nunca pediu a bênção ao Pápá pelo menos uma vez, que atire a primeira pedra. A nossa cultura e tradição do catolicismo cristão não tem só malefícios, também nós ensina a viver das esmolas dos outros. Ainda outro dia um amigo meu insistia comigo dizendo-me em voz alta que eu sendo baptizado era obrigatoriamente católico, talvez porque ainda não tenham inventado o divórcio religioso. Na altura fiquei chateado, porque me via como um tipo arreligioso, mas depois fui para casa pensar. E dei-lhe razão. Se eu amanhã casasse com um homem, também não podia afirmar que era heterossexual. Já a justiça em Portugal é lésbica. Dá-se com leis que também estão no feminino. E depois dá nisto, que vemos todos os dias. Hoje em dia um Papa já se pode casar com um Major. Onde é que no tempo da Inquisição ou da Velha Senhora isto era possível? Depois a culpa é sempre do Sócrates, dizem professores ou enfermeiros. Trolhas ou Empregadas de Banqueiros. Mas no fundo a crítica social só é aceitável neste país quando a temática envolvente é o meu extracto bancário ao fim do mês. No fundo a justiça até trabalha e desde que me lembre, sempre prendeu um presidente de um clube histórico do futebol mundial, um pedófilo com um kispo vermelho e um sucateiro com um bigode aristocrata. No fundo o pessimismo é todo meu. Peço desculpa e deixo aqui a origem da minha citação prefacial:




Pós-Fácio:

"Pátria amada mas da boca, que não temos coração. Pátria de indústria pouca, por menos educação. Pátria do fado e dos estoiros, da bola e da emigração. Esperando pelos cabelos loiros, d' El Rei D. Sebastião."

Pátria Amada - Petrus Castrus (Mestre/1973)

7 comentários:

Lebre disse...

Não percebi bem esta afirmação: "Já a justiça em Portugal é lésbica. Dá-se com leis que também estão no feminino"

Francisco S. disse...

A Justiça/As Leis
Dois nomes comuns, ambos no singular e por incrível que pareça também no feminino. Feliz coincidência quanto ao género, uma pseudo piada situacionista quanto ao casamento homosexual recentemente aprovado e colocado de pronto na constituição portuguesa. Mas este não foi um Pronto, daquele de limpar o chão.
É para sempre.

lettersbasedlifeform disse...

Lebre,
Boa questão!
Obrigado

Chico,
Sem ela não ia lá!!!
Que andas a ler? Boris Vian??? Estás muito bom pá!!! Parabéns!!!

Meireles Ricardo disse...

só falta dizeres que és benfiquista

Francisco S. disse...

Não, acima de tudo sou Português!

"E eu vou cantar que sou portugues, e eu vou cantar que sou portugues"

Francisco S. disse...

Tó não sejas trengo:
Se calhar prestei atenção às aulas do Prof. João Lopes de Língua Portuguesa. Além do mais recordo a gramática verde do teu Sporting.

lettersbasedlifeform disse...

Chico, a minha gramática pode ser verde, mas é bolor! Já não vejo um jogo de futebol completo há quase uma década (sim, sim, nos jogos da selecção em 2004 aproveitava para fazer coisas como dormir!!!)!! Só sei o que se passa nesse mundo pelas conversas que ouço entre amigos que gostam de futebol (e que me ridicularizam constantemente sempre que tento intervir para explicar o meu ponto de vista sobre a matéria).
O elogio era puramente pela qualidade da escrita...(sinceramente, pensei que estavas a escrever sobre o país!!)
Pá, gosto do futebol como desporto (tipo, jogar com amigos...) mas não de ver futebol nem de dar qualquer tipo de publicidade a isso (pois a má publicidade é publicidade!!). Só voltarei a ver futebol quando, por exemplo, os investigadores que fazem pesquisa em DNA ou na cura para o cancro ganharem o mesmo que o Ronaldo...já para não dizer mais...

PS: Chico, não leves a mal esta minha dissertaçao (no fundo até penso que vai de encontro ao teu post) mas depois de ver o vídeo (sim, só vi agora) fiquei furioso pela parte da discriminação...porque se este, que está no topo, diz e pensa isto...fará os que estão no fundo da pirâmide...