A palavra Pop sempre foi susceptível de interpretações várias. Quando era mais novo, para mim era simplesmente repugnante, porque simplesmente a associava a musica puramente mainstream, ou a ícones capitalistas da música tão dispersos como a Mtv ou a Rádio Comercial. Ou seja para mim, não era um género ou estilo musical, mas sim aquela música dita comercial que estaria a rodar na altura. Com o passar dos tempos, para além de perceber que este é de facto um "estilo modal", percebi também que existe boa pop. Mais: qualquer banda que recorre ao bom gosto e à finura, recorre à pop. Ou seja a pop é mesmo a faceta brilhante da música, que usada em quantidades reguláveis pode fazer toda à diferença. Posto isto, é de referir que a pop é também extremamente útil para categorizar tudo o entulho sonoro que nos rodeia no imediato. Pop pode ser rock, folk, trip ou hip hop, electrónica, bossa nova, world music ou outro adjectivo. Se é pop, ou não é pop, no fundo não interessa. Mas na luz do túnel deste, pode fazer toda a diferença.
Det är Jag som är Döden - Hey Space! (2008)
Uma descoberta recente. Descendentes dos Bogus Blimp (banda de culto norueguesa), estes magnatas sonoros brindam-nos com um álbum eclético, um meio termo entre a finura electro pop de uns Air e o experimentalismo rock de uns Radiohead.
When - You Are Silent (2008)
Colacar When (Lars Pedersen) num tópico dedicado à pop, pode parecer absurdo e até mesmo cobarde da minha parte. De facto acaba por ser um pouco, devido à parafernália de sons que coabitam You Are Silent. Ainda assim possuido pela alma de Tom Waits, os melhores momentos aqui presentes não passam de pop obscura, anarquizada ao promenor.
Air - Walkie Talkie (2004)
Falar em pop na sociedade contemporânea e não ir aos franceses Air, não só parecia mal como era um crime, mas daqueles puníveis com coima elevada. Estes dois indivíduos para mim servem-se do romantismo intelectual para criar retalhos sonoros extremamente sensuais. Este álbum é exemplo disso mesmo, onde a electrónica é a rainha da noite, num banquete pop em que bebida é a descrição (champagne).
Dengue Fever - Venus on Earth (2008)
Estes nerds americanos numa clara trip de world music, propoem-nos pop cambodjana, não fosse a vocalista uma nativa do Cambodja. Resquícios de rock progressivo abundam nesta mistura atípica, mas bastante cinematográfica.
Gazpacho - Night (2007)
Gazpacho são dos tesouros melhores bem guardados da música actual. Este álbum com apenas cinco músicas mas com 50 e tal minutos, reflecte todo o talento destes músicos noruegueses, que se refugiam no rock progressivo de carácter espacial, seguindo a tradição de uns Marillion.
Lykke Li - Youth Novels
Lykke Li é a nova coqueluche da pop sueca, que com apenas este álbum começou a fazer furor atrás das bancadas. E é facil perceber porquê. Num registo vocal aproximado de Bjork, mas utilizando um pano instrumental mais limpo este álbum está recheado de bonitas canções.
Nouvelle Vague - Nouvelle Vague (2004)
Quando em 2004 o duo que está por detrás desta "nova vaga" editou este álbum homónimo, tinha como objectivo dar uma roupagem a temas inéditos da new wave dos anos 80. Esta roupagem incide na bossa nova e nas cadências latinas, mas acima de tudo num bom gosto pop au point, não fossem estes indivíduos franceses.
Antimatter - Lights Out (2003)
Antimatter é sinónimo de boas canções pop. Geralmente encobertas num manto electrónico onde as ambiências se tornam melancólicas q.b.. Se o Nick Drake hoje fosse vivo, este seria um projecto que ele decerto aprovaria. Quanto ao álbum, tudo do melhor que pode haver: ambientes floydianos, portishead aqui e ali e sobretudo muita inspiração.
Antony and the Johnsons - Antony and the Johnsons (1998)
Antony é das personagens músicais que tem andado mais na voga nestes últimos anos, isto por causa, para além de outras coisas, da sua portentosa, eu diria magistosa mesmo, voz, servida de arranjos épicos e luxuosos. Este homónimo já tem 11 anos, mas continua fresco.
Chroma Key - You Go Now (2000)
Chroma Key é Kevin Moore, que dispõe no cadastro a passagem pelos Dream Theater. Pois esqueçam todo esse virtuosismo, porque o próprio Kevin já não vai por ai. Tal como demonstra You Go Now, Chroma Key é uma lufada de ar fresco. Rock espacial, sempre envolto de uma sensibilidade pop que deve muito aos sintetizadores dos anos 80. You Go Now é uma viagem sem retorno, e ainda bem, porque é um sítio extremamente apetecível para passar lá a vida, tal como a Ilha das Cores.
Circus 2000 - Circus 2000 (1970)
Circus 2000 é uma raridade da cortesia do progarchives. Folk psicadélico italiano na sua plenitude. Canções hipnóticas, compiladas num álbum surpreendente, que certamente merecia uma remistura ao seu nível.
Tortoise with Bonnie 'Prince' Billy - The Brave and The Bold (2006)
Álbum de covers dos pioneiros do post-rock, aqui acompanhados pela voz do rebelde Boonie Prince Billy. Arranjos descomprometidos a piscar o olho ao rock sujo e à electrónica.
Woven Hand - Consider The Birds (2004)
Este projecto liderado por David Eugene Edwards, é descendente directo dos 16 Horsepower. O que temos aqui é folk de índole religiosa, por isso a crença é grande. Canções cheias de espírito, ou simplesmente pop gospeliano actual. Um álbum de iluminados para descrentes, ou será de descrentes para iluminados?
Akron Family - Akron Family (2005)
Este álbum de estreia auspicioso da família Akron, revelou ao mundo uma das bandas mais imaginativas do momento no domínio da folk. Imaginem que os Radiohead esqueciam os delírios electrónicos e se dedicavam à folk rústica e sonhadora, com banjos à grande e à francesa.
Arto Lindsay - O Corpo Sutil (1996)
Visionário da bossa nova, tem pautado a sua criatividade como guitarrista/vocalista e produtor. Passou por inúmeros projectos (punk,new wave,jazz) mas nestes últimos anos dedicou se ao vasto cancionário da bossa nova, dando-lhe roupagens características dos anos 80, sem perder a essência e sensibilidade que caracteriza este gênero brasileiro.
Brazzaville - 2002 (1998)
Mais bossa nova. A pop serve-se desta indescriminadamente, e ainda bem. Acho que toda a pop deveria ter um cheirinho de bossa. Neste caso David Brown, ex-saxofonista do Beck, demonstra que canções com apenas 3 ou 4 acordes podem ter uma essência profunda.
Céu - Céu (2005)
Céu é a nova coqueluche brasileira. E com este álbum de estreia é mesmo justo por a rapariga num pedestal, porque para além da sua voz, conta com arranjos de um bom gosto extremo. Balanço funk, essência bossa e uma toada jazzística bastante cool suportadas pelo chamado vozeirão.
Devendra Banhart - Smokey Rolls Down Thunder Canyon (2007)
Precursor do chamado folk psicadélico, este homem das cavernas rapidamente foi absorvido pelo universo da pop. Com uma guitarra e uma voz tremida, Devendra faz milagres contemporâneos, pois recria os grandes cantautores do século passado, com uma facilidade extrema.
Harmonium - Si On Avait Besoin D'Une Cinquième Saison (1975)
Mais uma cortesia do www.progarchives.com. Estes canadianos editaram apenas três albuns, mas as criaram canções com uma cartomancia única. Este álbum certamente é um marco no folk progressivo. Até o facto de cantarem em françês, torna esta banda mais cativante.
Lena d'Água - Sempre (2007)
Antes de mais é de referir que este álbum ao vivo tem o selo da Blue Note, e só por é preciso ter cuidado. Depois é de referir que a carreira da Lena d'Água não foi so pimba, antes pelo contrário. Desde a ligação ao rock progressivo (Beatnicks) até ao pop rock mais aventureiro (Salada de Frutas) este disco realça o lado jazzístico menos conhecido da cantora. Acompanhada pelos melhores músicos de jazz nacionais, revisita os seus temas mais marcantes, demonstrando que qualquer balada pode ser elevada se os arranjos forem os indicados.
Montain Mirrors - Dreadnought (2008)
MM é uma banda recente, a meio caminho entre uns Antimatter e uns Opeth era Damnation. Ou seja música, essencialmente acústica, sem deixar de ser agressiva aqui e ali e servida sempre de uma melancolia bem apelativa. Embora este disco não seja nada de extraordinário, apontam-se ideias interessantes.
Paatos - Silence of Another Kind (2006)
Banda sueca, que constrói boa música. Apoiada numa tonalidade trip hopica e servida de arranjos jazzísticos, esta banda é um corropio progressivo e incorpora elementos floydianos e portisheadianos, apoiando-se numa vocalista singela e suave. Este álbum é uma lição de pop contemporânea.
Rui Reininho - Companhia das Indias (2008)
Este álbum é a voz de Rui Reininho e a criatividade de Armando Teixeira (Balla), para além de dispor de convidados qualitativos (Rodrigo Leão e Paulo Furtado, entre outros). O que temos aqui é pop fresca e tenrinha, apoiada na melhor base para tal:a new wave dos 80. Bom gosto.
N.E.R.D. - Seeing Sounds (2008)
Nerd é daqueles projectos ingratos para a sociedade, o nome diz tudo. Englobados no lixo do hip-hop Mtv, Pharrel Williams prova que se as pessoas tiveram capacidade para tal também existe bom hip-hop. Isto porque não se limita a colocar uma batida qualquer e rapar por cima dela, antes pelo contrário. Executa um bom trabalho de samplagem e não se limita a cadenciar as rimas, mas também canta.
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